Preliminares: Um passeio pela história da Literatura Erótica...



Apesar de suas origens um tanto quanto imprecisas e nebulosas, pode-se dizer que a poesia erótica feminina surgiu para a Literatura, na Grécia Antiga, no século VII a.C. pelas mãos da poetisa Safo de Lesbos, considerada a primeira mulher a se atrever a expressar o erotismo feminino em versos. Entretanto, poucos fragmentos da obra desta grande poetisa foram conservados devido à censura que sofreu por parte dos monges copistas na Idade Média.

Durante o período da Idade Média por sofrerem perseguições e ameaças de morte, poucas mulheres se dedicaram à arte da escrita, principalmente literatura erótica. Somente a partir do Renascimento até os nossos dias é que inicialmente mulheres como: Marie de France, Eleanor de Aquitaine, Marguerite de Navarre, Louise Labé, Elisabeth I da Inglaterra e Cristina da Suécia, que chegou a fundar academias literárias durante a época de seu exílio na Itália, todas de educação privilegiada e pertencentes às altas cortes libertaram suas penas e tinteiros e se dedicaram com mais afinco a este tipo de literatura.

Mais tarde, no período de transição entre os séculos XIX e XX, surge Rachilde, pseudônimo de Marguerite Aimery, que compôs inúmeros romances escandalosos para a sua época. Já no início do século XX surgem outros nomes, como: Natalie Clifford-Barney, Renée Vivien, Lucie Delarue-Mardrus, Renée Dunan e Sidonie Collette, se destacando esta última pelas frases que caracterizavam seu estilo literário, tais como: “Poucas pessoas sabem o que é o prazer. Só conhecem a farra... Quem nos criará um verdadeiro erotismo? Ele faz falta à poesia e às letras”. (ALEXANDRIAN, 1993, p. 299)

Além destas, surgem também neste período Anaïs Nin e Joyce Mansour, a primeira considerada a melhor romancista erótica moderna. De estilo surrealista e bastante interessada pelos sonhos e prospecção do inconsciente, seu erotismo é influenciado por algumas experiências vivenciadas por ela e marcado pela delicadeza e recusa da separação entre amor e sexo, pois segundo a autora “a literatura erótica escrita por homens não satisfaz (ia) as mulheres”, devido ao fato de que as “necessidades, fantasias e atitudes eróticas” femininas são diferentes das dos homens.

Já em sua época Anaïs Nin profetizava que haveria no futuro cada vez mais mulheres que escreveriam tendo por base suas próprias experiências e sentimentos, pois para ela “o erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia”.

Joyce Mansour se notabilizou por uma poesia inicialmente marcada pelos temas do sexo e da morte (Eros e Thanatos), “misturados numa única obsessão uivante, rosnante”, que “pareciam rugidos de pantera negra, da qual ela própria tinha o porte e o ímpeto selvagem”. (ALEXANDRIAN, 1993, p. 316) Logo a seguir seu estilo se converteu em “uma imagética barroca, macabra, exprimindo o auto-erotismo, o sentimento de metamorfoses inquietantes [...] exaltando a revolta feminina integral, [...] produzidos por uma erupção de sua sexualidade vulcânica”. (ALEXANDRIAN, 1993, p. 317-318)

No Brasil a poesia erótica feminina manifestou-se de forma mais clara somente a partir do século XX, pois antes disso a repressão a tudo o que se referia ao corpo, incluindo sexo e virgindade por parte dos portugueses que aqui chegaram, desencadeou uma mentalidade bastante preconceituosa, pode-se dizer assim, ao relacionar sexualidade com pecado, principalmente por parte da Igreja Católica e do cristianismo. “O instinto sexual não controlado pelas regras do casamento se transformava em luxúria e paixão nas páginas dos moralistas”. (PRIORE, 2005, p. 23)

Por isso, inicialmente apenas os homens praticavam uma poesia erótica sem maiores pudores, sendo Gregório de Matos lá no século XVIII considerado o primeiro representante brasileiro a introduzir esta temática em nossa poesia. Entretanto, a voz erótica feminina clamava por ser ouvida e nos anos 60, com a revolução feminista, que reivindicava basicamente direitos iguais entre homens e mulheres (direito ao voto, direitos trabalhistas e salários iguais, entre outras questões relativas à proteção da mulher) é que as coisas começaram a mudar também na Literatura.

A partir daí começam a surgir as primeiras poetisas e escritoras a adotar o tema erótico em suas obras, tais como: Márcia Denser, Alice Ruiz, Betty Milan, Cassandra Rios, Myriam Fraga, Olga Savary, Gilka Machado, Hilda Hist, Adélia Prado, entre outras, sobressaindo-se as duas últimas. Hilda Hist por após décadas escrevendo literatura séria, abdicar deste estilo para se entregar à temática do erotismo, adotando temas-tabus como: pedofilia, homossexualismo e lesbianismo na tentativa de ser mais lida e assim conquistar o reconhecimento do público, segundo ela.

Mas é nas duas últimas décadas que se tem notado uma eclosão do número de poetisas que passaram a adotar a temática erótica em suas obras, através de um discurso no qual são expressos desejos de liberdade, amor e erotismo, em variadas nuances, havendo, portanto, lugar tanto para o estilo mais refinado e rebuscado até o estilo mais simples e coloquial, inclusive para palavras de baixo calão.

Neste contexto surgem poetisas como: Angela Montez, Laura Esteves, Verônica Dias, Mônica Mello, as quais se tem destacado entre tantas outras anônimas, que atualmente se dedicam a publicar seus poemas na Internet, seja em sites e blogs de literatura e poesia ou no Orkut a fim de divulgarem suas obras para o mundo.

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